terça-feira, 9 de setembro de 2008

SECULAR

Perdida estou num lugar que nunca estive. Nem sei se estarei um dia. Mas escrevinho palavras incoerentes para desenhar meus sentimentos tortos. Rimo palavras sem eixo, irrito as letras com meu canto. No canto, solfejo soluções e prantos. Me assusto com o que vejo e o que não vejo. Tua alma. Tão opaca que oprime e chego a duvidar que te amei tanto. Ou te amo e amarei em bruma. Rouca de gritos insolentes, solenes sentidos de apego. Me pego pensando em ti em frações de segundos mais rápidos que meu ar. E tua boca curvilínea que me sorri em desalinho e tonteia minhas pernas incoerentes que cismam em caminhar até ti.

Deixarei intacta tua imagem. Fixa imagem de franqueza. Deixarem minhas mãos me guiarem para o mar e a lua que parece tão próxima, mais próxima que tua alma.
Sinto que sou um gesto, que posso te possuir. E que posso me enganar com a lua que parece tão perto e com o mar que parece tão sereno... teus olhos serenos de mar e brilhantes como a lua, me afogam de saudade.

Nem mesmo num lugar onde estive, talvez nem estivesse mesmo lá, presenciei olhos tão silenciosos. No canto deles há uma coisa que me encerra. Estou demasiadamente perto, para ser engolida por eles. Encerram e não ouso mover. Nada que me estenda a esse lugar que nunca estive se iguala ao poder de tua intensa fragilidade. Ou de tua ternura quando respira. A morte se recicla em teu olhar, tão doce e selvagem olhar...
Que pequena sou eu diante de teu mar. Misterioso mar de olhos tristes e perenes. Tão perenes quanto a vida que se espreita e a vontade rouca de te invadir e te amar e ser amado pelo teu olhar.

Te deixarei ir, não sem antes encostar no meu rosto o teu rosto e fazer com que sintas o meu aroma. Talvez você sufoque, talvez você desmaie. Talvez você descubra o meu veneno. Ouvirei tua fala amorosa e teu suspiro seco. Teus olhos para mim, tão fechados e vivos e misteriosos, tão meus que nem sei onde coloca-los.

No fundo do mar, talvez. Na ponta da lua, na curva das estrelas. Na saudade que acena com a mão que teus olhos já me descreveram tantas vezes sem querer...

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