terça-feira, 26 de junho de 2007


Ficção


No fundo dos olhos tinha uma expressão ímpar.
Não sabia se ardia ou calava,
se movia.
Era másculo, cândido, tênue
e tinha a pele de pêssego típica de um burguês.
Com a flauta em riste, plainava e
imperava no seu mundo de estrelas
e dificuldades.
Com seu violão, ternura infinda,
parecia mais um menino pedindo colo.
Ele é mágico como outrora os magos são.
E vivo, intenso, vertiginoso, estranho e óbvio no seu labirinto.
Era forte como um touro em suas canções
e me deixou impassível diante de seu sorriso.



*para uma pessoa muito especial, que com sua simples presença causou tempestades e calmarias dentro de mim e resgatou a poesia sufocada pelo concreto da rotina.

DELÍCIA
Tua boca é meu veneno
quando bica, alivia
quando torce, amolece
quando nega, entorpece.

Tua boca é minha sina
de amor que adoça e alucina
peça rara que arde
quando a língua invade

Tua boca é delícia
ondas de mistérios que afoga
Chama que arranca os pecados
sabor do corpo desvairado.

Tua boca é beleza
desejo, devassidão e calmaria
quero dela todo meu provento
e nela restar minha vida.


segunda-feira, 25 de junho de 2007

MANCHA
Perdi a rima do poema
Mas não perdi a auto-importância.
Um dia esses rabiscos serão exposto
E muitos se adequarão a esses versos banais.
Pretensão.

Voltei a fazer poemas
No fundo do poço, finalmente.
O poeta é marginal
E estou na margem do papel
Nessa quimera sem fim.
Perdi quase tudo na vida
Mas recuperei a poesia.
Sem a dor, a mágoa, o desprezo
Não se faz poesia perfeita
Não se aprende a viver
Não se ganhaa credibilidade.
A negação é provedora de crescimento
E de cicatriz que não emudece com o tempo.


VALSA
Um ensaio, um boleto, esmero.
Versos fáceis, rimas facéis
Deamor fácil de rimas da dor.
Espero.


LONGETIVIDADE
Poema curto,
Curtíssimo,
De tempos gastos em desconversas.


DESCULPAS
O tédio lamenta a ausência
Mas foi tomar um porre homérico
E não pretende voltar tão cedo.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Soltinho 2
Esse menino trafega nas ondas do mar,
parece saido do sal
e purificado diante das pedras da praia
Esse menino tem sotaque, tem girias, sorriso belo,
felicidade estampada.
Plaina suave em areias escaldantes
e circula intimo de sereias
e bundas sacolejantes diante de cadeiras
e guarda-sol.
Ele corre, ele voa!
Esse menino pensa como um menino
mas tem corpo de homem
e a vida inteira pela frente para pensar
como homem e sonhar a voltar a ser menino


O LIMITE
São onze e quarenta da noite. É fim de segunda-feira e a madrugada é uma criança. Sinto uma súbita vontade de pular da cama e descobrir o mundo. Não hesito. Em segundos visto uma calça jeans e uma camiseta qualquer e saio "voando" , só dá tempo de pegar a carteira com uns trocados. Saio sem rumo pelo meio da rua vazia. Ouço o barulho dos pedregulhos na sola do meu sapato. Nenhuma invasão, tudo é silêncio, nenhum espião me olha por trás da janela. A lua brilha com uma intensidade que me revigora. Quero ver gente. Em instantes ouço vozes, gargalhadas distantes. Quero sentí-las. Me aproximo e elas não se assustam. As vozes continuam e eu me sinto em casa, rodeado de putas, veados, maníacos, bandidos, drogados. A cada vibração das gargalhadas sinto novas descobertas. Estou excitado. Mas não quero as putas. Elas fazem parte do cenário e o cenário é o meu sagrado. Paro no bar de sempre e brinco com o garçom. Ele é mais que amigo, é garçon. Começo a beber e não sinto os goles. Gargalho com os companheiros como velhos amigos de estrada. Nem posso pensar, não tenho tempo para pensar. Meus quarenta e poucos anos não passam de rótulos e o chopp desce seco. Meu corpo sua, minha alma estremece. Poderia viver de descobertas. Vivo de obrigações. Meus quarenta e poucos anos se dissolvem com a menina que me olha. O que ela procura: Minha fragilidade: Me mostro confiante. Sou jovem e o jogo é gostoso, sinto tesão. Peço outro copo e mais um e mais. Fumo com excesso. Eu não tenho limites, não tenho fim. A vida é solta, livre, leve, flutuante. Mas preciso de carinho e velocidade. "Livre, leve, flutuante..." minha vida roda e vou trabalhar. Sem sono, com remédios. Sem fome, como álcool. Sem vínculos, cheiro a vida. Sem fim.


Poemas feitos de 1992 a 1994

MANCHA
Perdi a rima do poema
Mas não perdi a auto-importância.
Um dia esses rabiscos serão exposto
E muitos se adequarão a esses versos banais.
Pretensão.
Voltei a fazer poemas
No fundo do poço, finalmente.
O poeta é marginal
E estou na margem do papel
Nessa quimera sem fim.
Perdi quase tudo na vida
Mas recuperei a poesia.
Sem a dor, a mágoa, o desprezo
Não se faz poesia perfeita
Não se aprende a viver
Não se ganhaa credibilidade.
A negação é provedora de crescimento
E de cicatriz que não emudece com o tempo.

VALSA
Um ensaio, um boleto, esmero.
Versos fáceis, rimas facéis
De amor fácil de rimas da dor.
Espero.


LONGETIVIDADE
Poema curto, Curtíssimo,
De tempos gastos em desconversas.


DESCULPAS
O tédio lamenta a ausência
Mas foi tomar um porre homérico
E não pretende voltar tão cedo.


POEMA ERÓTICO
O solavanco dos carros, em freadas bruscas, arrepiam o pêlo,
Em desejo incosciente.
O suor da rotina em atrito ao desejo úmido.
O odor do sexo impregna cada canto da rua
E mantém um vínculo cúmplice com o concreto.
Os caláfrios do ventre se ouvem de longe, em camadas ardidas.
As mão trêmulas, envolvendo trocados para o ônibus,
Escondem uma assustada necessidade de aventura erótica.
Ninguém poderia imaginar, suponhe-se.
Mesmo diante de olhos arregalados e vermelhos,
O coração latejava sob a blusa dina que roçavanos seios já duros e ampls.
Mesmo com a vagina agressiva,
Escorrendo de vontades inconsequentes,
Ansiosa por uma mão, um pênis, uma boca,
As pessoas passavam e não percebiam.
Pode-se morrer de desejo.
Pode-se morrer de gozo
Pode- se morrer que ninguém vai notar.


PEQUENO POEMA DA MENTIRA
Desculpas parecem mentiras
Desculpas, perdões:
__Desculpa, vá...
Beiço pequeno, lábios rosados, sorriso tímido, olhos arregalados e marejados.
__Desculpa...
Não há desculpas para crimes nem castigo que possa vingar uma culpa de amor.


PALAVRAS
Curto.
Grosso.
Fosco
Oco
Nosso
Posso
Quero falar mentiras em palavras pequenas que possam expressar o meu repúdio a proliferação da burrice e do absurdo de não se comer neste país.


VERDADES
Amor louco
Pré-depressão
Pré olheiras
Pré-dores-de-cabeça
Prenúncio de muitos atrasos, brigas, renúncias, orgulhos, teimosias, mentiras...
Ah! Amor louco...


RECADO
Não sei viver sem você
Não sei ficar sem carinho, sem beijos, sem tapas.
Não sei ao menos passar alguns momentos sem querer discutir.
Não sei como ficar curtindo essa falta de desprezo, de ódio, de mágoa.
Não sei viver com você.


A VOCÊ
Amigo é aquele que te conhece e te ama desse jeito.
Amigo é aquele que você enche o saco e ainda assim resiste
Amigo é aquele que te dá esporros monumentais
Amigo é aquel que continua seu amigo depois de tudo o que você aprontou
Amigo é uma profissão em extinção


Poemas feitos entre 1986 a 1992

VÍCIO
Sexualmente falando
Te condeno.
Em força bruta, grito teu nome
Truculento.
Ensandecida me rasgo:
O corpo e a coerência.
E nada mais me resta,
Nem a essência.
O beijo, este gracejo,
Me corrói de ácido minhas vertigens
E me excita, me rompendo.
Esse marasmo de escárnio
E essa dor que corta em mim
Não me deixam chegar até você,
Que em cima deste pedestal
Se exibe nu aos meus olhos famintos.

As meretrizes do asfalto me jogam pedras.

De mais, Só me resta o suicídio
Beijando sua boca com veneno de cio.



O BANQUETE
De tudo era pouco
Do pouco era muio
Do nada um mero talvez.
A mesa estava exposta
Com sua simplicidade remota
Tão remota quanto a vida,
Tão monótona quanto ela própria.
Aceitamos a mesa
Aceitamos a corte do mal.
A fome foi mais forte
E aleijou todos os princípios de orgulho.
Aceitamos o pão e a carne e o feijão
E tudo o mais em nome da dignidade do mais forte.
Pobres fomos até o fim
Humildemente incapazes de anarquizar os sentimentos.
Pobres sem dentes querendo roer ossos...
Pobres de si mesmos vivendo de esmolas de emoções Secos e feios de rancor e ódio que formamos.
A mesta está ali,
Imaginária,
Prontas para o ataque.
Ora, vamos então comer os últimos pedaços de gente
Alegremente
Brindarmos a morte!
A morte.
A morte...


O JOGO
Lábios com lábios
Beijos ardentes
A boca é quente
É de paixão.

Mão com mão
A mão safada
Desvirginada:
É sedução.

Corpo com corpo
Um grudou no outro
O tempo é pouco:
É tentação.

Coração com coração
Atração forte de um amor
Que a vida pode transformar em dor:
É emoção.
Planices e Planaltos
Seus olhos marejantes vibram a qualquer instante
são curiosos, latentes, vivos e doces.
Seu cheiro lembra o mar selvagem de praias desertas
como se nunca existisse, como se fizesse parte do cotidiano.
Sua mão, que poderia ser firme como a de um homem ao mar
é simples plainagem de aconchego e ternura
em minha vida truculenta de maremotos e vertigens.
Encontro uma rede em teu abraço
encontro um caminho,
mesmo que desconhecido e trêmulo,
que sigo a cada dia
com passos firmes e olhos fechados.


Soltinho
Sua cabeça é solta ao vento
_Puxo o fio da linha para trazê-la mais próxima
do centro da terra.
Seus sonhos vagueiam por lugares que nem a imaginação mais
fértil poderia alcançar.
_Eu visto minha camisa de força para chegar mais próximo.
Um menino diante do frio da dúvida
e da dureza dessa vida cinza chamada maturidade.
Um homem, regado de sentimentos por todos os poros.
Timido, um herói, um louco.
Travado nas prisões de cada lado da escolha.
Que arrisca de peito aberto e sorriso doce
Que de caçador virá caça no bailar inebriante das tentações
Que não sabe o que quer
Mas que sabe tudo o que não quer.