quinta-feira, 11 de outubro de 2007



DESPEDIDA



Acreditei que tu eras meu sol
E que minhas estradas finalmente teriam luz.
Acreditei em cada dúvida sua
E tornei elas minha verdade.
Te vi como um mago incandescente
Que me fazia corar.
Te amei de verdade no primeiro minuto que te conheci
Ou até antes.
Vi as páginas de nosso livro e os desenhos de sua diagramação.
Sonhei com nossos sonhos em comum e incomuns.
Mas tu me olhas como um paraquedas aberto
A tudo que te envolve.
E má, mentirosa, perversa
Usando da perfídia para atingir minha meta.
Tu não sabes que o amor é uma mentira?
Dele me banhei acima da cabeça
Com as lágrimas que derramei por você.
E é de sua raiva que me seco.
Essa idade te confere a burrice dos anos
E a incompreensão dos caminhos.
Te faz dono da verdade
Enquanto tu não és nada além de aprendiz.
Tenho a verdade do amor presente em meus olhos
Impossíveis de mentir.
E a dor aguda de tua indolente espada,
Injusta espada,
Que fere inocente
O puro e correto coração.
Nada perco porque nada tenho
Mas tu me tens e escorro pelos seus dedos
Doce demais para seu paladar.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007



Meu

O que é meu que vai embora
hemorrágica saída
que transborda em mágoa?

O que é meu que ignoras?
Respeito: te imploro.
Doces mentiras que contas a si mesmo...
Tens um tufão no peito se remoendo por mim
Disfarça...
Farça!
Teu olho volteado se abre de encanto
e pasmo tu me escapas.
Menino travado no tempo
do certo e do errado.
Quimera e imperfeito ardem
O sexo é palavra casta
A boca semi-aberta seca.
Tremes...
Tu me escapas e ri acreditando.
Vai embora.
Te ofereço o mundo e você não sabe o que é isso.


Postúma

Já ouvi você se declarar
Vi você chorar
Percebi também sua palavra
Presa na garganta.
Meus poemas rasgados
já causaram emoção.
Minhas loucuras já te extasiaram
e provei o delírio de tua rotina.
Nossos sonhos se misturaram um dia
e talentosas, as cores se combinavam.
Sua música encontrou minha letra
e teu calor encobriu minha nuca.
Seus dentes já cerraram meu medo
e teus braços cortaram minha fuga.
A cálida descoberta esvaindo em nossas mãos...

quarta-feira, 29 de agosto de 2007


Preciso de sexo
para aplacar minha fúria de tédio
e concentrar minha mais terna energia.
Sexo nos dentes
roendo os ossos de fúria
travando o corpo de desejo
e a insanidade da inconstância.
Suspiro intenso
vertente de angustia
sexo dentro de mim
no corpo e na aurea
aquele sexo que te deixa pasma
que te sufoca
te replica
Sexo, apenas isso.





Ouço um barulho
meu estomago roça
tenho medo de sons

Ouço outro barulho
minhas mãos tremem
escondo as provas

Silencio absoluto
e incognita fico diante dos fatos

Ouço passos
e ruidos disconexos
pasma estou
de olhos arregalados

Palmas

Presa a sombra que invade
meu corpo
e trepida meus
mais valorosos delírios.

TERROR

Não tenho medo de nada
só da falta de ar
só da falta de comida
só o medo da falta de amar

Não tenho medo de nada
só da miséria da vida
só da injustiça
só o medo de ficar segura demais

Avisto a pobreza pelas ruas
observo bem perto de mim tudo o que temo
nada posso fazer
nada quero fazer
porque não tenho forças
porque tenho medo de não conseguir mudar

Ouço rumores de insanidade
os homens estão loucos
estão pasmos de burrice
tenho medo de me transformar em igual

Medo: espectro paralizante.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

EXPERIÊNCIAS
Cheiro de vento
de sol
de alegria
de vida intensa.
Cheiro de música
de tons
de temas
de poemas vivos.
Cheiro de ritos
de mitos
de mimos
de risos intenso.
Cheiro de delirio
de sexo
de ternura
de você em mim.
Som que trepida
que seringa
que esfarela
que ressoa em mentes .
Tens o cheiro que quero ter nas minhas narinas
tens o som que quero perpetuar em meus ouvidos
quero o teu vicio
o teu risco
o teu siso
sem limites para voar.
Sem normalidades
sem interrupções.



Escondo que tu és o meu sol
para as opacas estrelas
de tua constelação não se enciumarem.
Mas tu és, inevitavelmente, meu sol.


ÀS VEZES


Espera...
não venha de histórias
chega de histórias
as mesmas histórias...

Completa
as lacunas que deixou
e preenche o vazio que fica
em tua consciente ausência.

Morri.



DE FATO:


Eu quero a diferença que me faz te olhar de frente
eu te completo e vc me basta:
eu quero você perto.

Você pode me ver como quiser
sou de mil maneiras
e te agrado da forma que lhe couber.

Disfarço minha máscara e as vezes esqueço de ser mulher
mas sou feita de amor
e não me oculto.

Sou teu rio que flui e desagua em tempestade.
Enxerga em mim a tua mão delirante
e navega em meu corpo de mistérios.

Tenha medo e respire fundo!
sou imperfeita e disposta a te dar um mundo bem complicado
para você desvendar.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

FINITO









Fui saber o que é o desejo
e cai no buraco da dúvida
e de lá não sai.
Ecoa em mim a saudade
que desperta o mundo
com seus gritos de dúvida.
Miragem em mim
te ver tão perto,
estendo minha mão e não te encontro.
Tenho que chorar para ver se passa...
ai, que não passa!
Ouço música para esquecer
e só lembro que é dela que você mais gosta.
Aborto a música
Ignoro o tempo
e sentencio a mim mesma
com esse amor recolhido,
incógnito
para durar a eternidade
que couber dentro de mim.

Toada

Ele faz um bem que ninguém me faz,
nem sei se sabe desse bem
e se é capaz de enteder o bem que o bem faz.
Quando ele me olha tão fundo,
nem sei se está aqui.
Não sei se ele sabe o que fez,
mas jura por um Deus que não crê,
que não vai mais se afastar de mim.
Se ele mente ou não,
efemero sorriso de criança,
também não sei.
Mas sei que meu peito arde
quando prevejo sua ausência em meus projetos futuros.
Utilizo o pretérito imperfeito
em nossas frases perfeitas
e ouço suas promessas largas
com êxtase de reencontro.
É amor que sinto,
encolhida em meu canto.
Transpiro sentimento nesses poemas malescritos que te dedico.
Dentro de mim o querer e o sim se parecem,
o não se esquiva.
Ouço tua voz como música nos meus ouvidos.
Sintonia.
COMIDA

Me devora

em descompasso e incessante.

É você

quem era para ser

chegou na hora que era para chegar

e está aqui.

Me saboreia

que te quero por inteiro

meu coração bate tanto quando lhe vê

e é hora de te querer só pra mim.

Me saqueia

e despudura o meu intimo

que estou vulnerável ao seu paladar.

domingo, 22 de julho de 2007

O drama da dúvida que reina em sua mente
entorpece meu sentimento e dá medo.
Estou estática diante de sua postura
e temo atenta meu futuro.
Não quero a dor e o lamento
não quero a poesia engasgada
nem a cobrança desvairada.
É o fim.

terça-feira, 17 de julho de 2007

INTERVENÇÕES

Tem um bicho que te rói por dentro. Ele te suga, corroí teus órgãos e tua energia. Ele te tira do eixo, dos teus sonhos e te entorpece. Bêbado de álcool e de angústias, te vejo trôpego pelas ruelas da noite. Em êxtase pela droga adquirida, em busca de uma realidade que te satisfaça.
Você tem a juventude sufocante que busca a razão, o sentido e a lógica. E nela se dispersa, embevecido pelas tentações. Sem limites, sem parâmetros. O grito que ecoa pelos becos, nas horas mais descabidas, sem vergonha ou motivo, emitem palavras desconexas em premissas de lutas sem causas concretas e da rebeldia pulsante do presente.
Homem feito e barbado, rosto de criança, olhar de menino tenso. Perdido e incoerente. Tem a música nas veias e o talento nas mãos. E as corta com a gilete afiada do medo, sangrando pela falta de ar e excesso de tédio. Angustiante. Mente a si mesmo pois desconhece os muros. Teus olhos melancólicos remetem a dor e a morte. Mas sinto calma quando suspiras. Sinto seu coração que palpita de vida e desejos. Diante de mim paira um menino, enfim, que quer ser feliz, apenas feliz, mas não detém o fio que te levará ao caminho.
Eis um ouro sem lapidação, achado raro em pedras embrutecidas. Um mago, um druida. Um louco, inconseqüente. Sábio, peregrino. Pés flutuantes, sapatos desgastados, roupas rotas e vaidades explícitas. Homem fiel ao amor bramido, nunca porém vivido. As meninas te inspiram e você cai nos seios que te acenam. Carinho vazio. Homem menino.
Teu bicho te roí e mastiga tuas entranhas. Tão vigoroso que te arrasta de si mesmo. Tão voraz que te afugenta de mim.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

LETRA E MÚSICA

O g do seu nome rima com sol
com riso, com gosto
com sabor e mar.
O g do seu nome combina com meu A
e vira amor, afago, abraço,
aspiração.
O g do seu nome é gaiato
rima fácil com palvras sem rimas
flui constante em minha gargata
como saliva.
O g do seu nome é rico em fibra
estremece a linha, enfurece o clima
destoa minhas notas
desafina, afina, desafia.
O g que me fascina.
trai, refaz, seduz, afugenta e desalinha.
G de imensidão
de perdido, louco, solto,
bicho.
Quero teu g comigo
no corpo, no nome, na mochila.
Seu g dentro de mim
e na rima.

ATORDOADA
Ele me trai.
Em pensamento, em atos, sonhos.
Ele me trai.
Tem casos omissos,
amores clandestinos,
figuras indecifráveis.
Percorre vielas, bebado,
de vinhos, drogas e desejos.
Ele me trai.
Mente ao sorrir
é enigmático com as palavras
e seduz como um maldito.
Se faz de anjo
e é mais um.
Se faz de mágico
e é torpe.
Ele me atrai.
FACES

Gosto de ataques imediatos
palavras francas
rápidas, intensas, grossas.
Não faço meia volta
sou direta, jogo tudo, disparo.
Sou grande, imensa, tridimensional.
Sou um soco no estômago.
Comigo nada é pouco, nem o bastante.
Causo impacto, furor, incomodo.

Suave, calma, amorosa
dona do profundo amor
e dos mistérios do sentimento.
Ambígua em deslizes,
inteira em atitudes.
Sou assim,
meio culpa, meio certeza,
viva.

Metade mulher, metade bicho.
Metade Lua, a outra também.

domingo, 15 de julho de 2007


VAZIO INITERRUPTO


Daqui a pouco você vai embora


Aflito, com compromisso pronto,


ânsia de vômito


e me deixará vazio


o coração e a cama.


Estatelada de êxtase e susto


depois de uma noite de amor e gozo:


a culpa.


Pelo amor trocado e não permitido,


o desejo concedido


o prazer além da carne


o sentimento que extravaza a pele


e a necessiade desse alimento diário.





Implantamos na cama oportuna


o pecado na crise da idade


Julgamos culpa o que é descoberta.


Te amo sem saber que é amor.


E vejo teus olhos brotarem de susto,


arredios e entregues a esse sentimento entorpecente.

sexta-feira, 13 de julho de 2007


SOL


Quando sinto fome, como doce. Quando não sinto, diluo. No frio, me aqueço, no calor me abano. Na saudade procuro. No desejo, busco. Quando durmo, sonho. Quando sonho, vibro. Quando acordo, envaideço. Quando quebro, monto. Quando sacudo, me ajeito. Quando limpo, sujo. Quando sinto dor, grito. Quando amo também.

Quando de frente, me viro. Se me viro, encanto. Se encanto, vôo. Se vôo, plaino. Se tenho asas, sou anjo. Se sou anjo, protejo. Se protejo, curo. Se curo, cuido. Se cuido, dou. Se dou, recebo. Se recebo, guardo. Se guardo, esqueço. Se esqueço, não é nada.

Quando feliz, canto. Quando triste, calo. Quando irada, esbravejo. Quando intensa, entorno. Quando chovo, seco. Quando te amo, alvoreço.

Quando relaxo, sofro. Quando sofro, choro. Quando choro, soluço. Quando soluço, te chamo. Se te chamo, te quero.

Quando começo, paro. Quando tensa, mudo. Quando mudo, me esqueço. Quando esqueço, reclamo. Quando reclamo, cheiro. Quando cheiro, tenho humor. De humor, sorrio. Quando sorrio, lembro. Quando lembro, brinco. Quando brinco, machuco. Quando machuco, sangra. Quando sangra, clamo. Quando clamo, rezo. Quando rezo, te chamo.

Quando te chamo, fico quieta. Se quieta, lamento. Se lamento, sofro. Se sofro, me contento. Se aguardo, impaciência. Se sou faísca, apago. Se apago, viro raio. Se sou raio, luz do sol. Se sou sol, sou você.

VELOCIDADE


Gosto dos venenos mais fortes,
das bebidas intensas,

do grito mais forte,
das saídas poderosas,
da amargura do café,
do ácido, do vício.
Sou insaciável e tenho espasmos delirantes.
Sou quente e intensa como fogo.
Caio do penhasco porque adoro voar.
DOCES E MARES

Você tem cheiro de passarinho quando canta,
de sol que acorda,
de balanço de rede em dia de brisa,
da delicia do sorriso de uma criança.
Ao seu lado, sou relógio quebrado
e saboreio pipoca abraçada,
sujo a boca de sorvete
e melo os dedos com a calda.
Parece banho de mar em água quente,
colo sem velocidade,
afago sem reticências.
Prazer sem pecado,
vicios sem camuflagem
brincadeiras sem temores.
Meu anjo visível, sei que existe agora
e está próximo de mim.

MISCELÂNEA

Eu sempre quero tudo e muito.
Sempre quero mais, não o bastante
Quero os sins, seja lá como forem.
Tenho o tempo nas mãos e sobrevivo as ventanias.
Não decido, me direciono.
Acedio as paixões e queimo.
Sou intensa, vibratória e louca.
Finjo, minto, dissolvo.
Invento alvos, me atiro, caio.
Busco as freqüências, potencializo as vitórias
alcanço as metas, quero as novidades.
Não duvido, não recrimino, não julgo
Eu faço, eu marco.
Não sou de escolhas, apenas quero.

DECLARAÇÃO
Menino bonito

de pele branca e afável

dedos singelos que tocam música

voz macia, gestos de integridade

caráter latente, firmeza de olhar.

Homem, de fato, na pele de menino matreiro.

Arrebata as pessoas com sorrisos largos e olhos brilhantes

Sabe ser a si próprio

e se perde em caminhos intensos

que percorrem a vida.

Talento incomensurável para ser ele próprio

e um jeito peculiar de ser especial.


DESVIOS

Ocorre que o bicho que te roi por dentro
é maior que o meu.


Corroi tuas entranhas
e te afasta de mim.


Sou tua desde o momento que descobri teu sorriso
e me ponho aos seus pés
diante de sua insegurança.


Tenho sede de sua saliva
e fome de tua pele espessa.


Quero o suspiro inteiro
de um homem pela metade.

terça-feira, 26 de junho de 2007


Ficção


No fundo dos olhos tinha uma expressão ímpar.
Não sabia se ardia ou calava,
se movia.
Era másculo, cândido, tênue
e tinha a pele de pêssego típica de um burguês.
Com a flauta em riste, plainava e
imperava no seu mundo de estrelas
e dificuldades.
Com seu violão, ternura infinda,
parecia mais um menino pedindo colo.
Ele é mágico como outrora os magos são.
E vivo, intenso, vertiginoso, estranho e óbvio no seu labirinto.
Era forte como um touro em suas canções
e me deixou impassível diante de seu sorriso.



*para uma pessoa muito especial, que com sua simples presença causou tempestades e calmarias dentro de mim e resgatou a poesia sufocada pelo concreto da rotina.

DELÍCIA
Tua boca é meu veneno
quando bica, alivia
quando torce, amolece
quando nega, entorpece.

Tua boca é minha sina
de amor que adoça e alucina
peça rara que arde
quando a língua invade

Tua boca é delícia
ondas de mistérios que afoga
Chama que arranca os pecados
sabor do corpo desvairado.

Tua boca é beleza
desejo, devassidão e calmaria
quero dela todo meu provento
e nela restar minha vida.


segunda-feira, 25 de junho de 2007

MANCHA
Perdi a rima do poema
Mas não perdi a auto-importância.
Um dia esses rabiscos serão exposto
E muitos se adequarão a esses versos banais.
Pretensão.

Voltei a fazer poemas
No fundo do poço, finalmente.
O poeta é marginal
E estou na margem do papel
Nessa quimera sem fim.
Perdi quase tudo na vida
Mas recuperei a poesia.
Sem a dor, a mágoa, o desprezo
Não se faz poesia perfeita
Não se aprende a viver
Não se ganhaa credibilidade.
A negação é provedora de crescimento
E de cicatriz que não emudece com o tempo.


VALSA
Um ensaio, um boleto, esmero.
Versos fáceis, rimas facéis
Deamor fácil de rimas da dor.
Espero.


LONGETIVIDADE
Poema curto,
Curtíssimo,
De tempos gastos em desconversas.


DESCULPAS
O tédio lamenta a ausência
Mas foi tomar um porre homérico
E não pretende voltar tão cedo.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Soltinho 2
Esse menino trafega nas ondas do mar,
parece saido do sal
e purificado diante das pedras da praia
Esse menino tem sotaque, tem girias, sorriso belo,
felicidade estampada.
Plaina suave em areias escaldantes
e circula intimo de sereias
e bundas sacolejantes diante de cadeiras
e guarda-sol.
Ele corre, ele voa!
Esse menino pensa como um menino
mas tem corpo de homem
e a vida inteira pela frente para pensar
como homem e sonhar a voltar a ser menino


O LIMITE
São onze e quarenta da noite. É fim de segunda-feira e a madrugada é uma criança. Sinto uma súbita vontade de pular da cama e descobrir o mundo. Não hesito. Em segundos visto uma calça jeans e uma camiseta qualquer e saio "voando" , só dá tempo de pegar a carteira com uns trocados. Saio sem rumo pelo meio da rua vazia. Ouço o barulho dos pedregulhos na sola do meu sapato. Nenhuma invasão, tudo é silêncio, nenhum espião me olha por trás da janela. A lua brilha com uma intensidade que me revigora. Quero ver gente. Em instantes ouço vozes, gargalhadas distantes. Quero sentí-las. Me aproximo e elas não se assustam. As vozes continuam e eu me sinto em casa, rodeado de putas, veados, maníacos, bandidos, drogados. A cada vibração das gargalhadas sinto novas descobertas. Estou excitado. Mas não quero as putas. Elas fazem parte do cenário e o cenário é o meu sagrado. Paro no bar de sempre e brinco com o garçom. Ele é mais que amigo, é garçon. Começo a beber e não sinto os goles. Gargalho com os companheiros como velhos amigos de estrada. Nem posso pensar, não tenho tempo para pensar. Meus quarenta e poucos anos não passam de rótulos e o chopp desce seco. Meu corpo sua, minha alma estremece. Poderia viver de descobertas. Vivo de obrigações. Meus quarenta e poucos anos se dissolvem com a menina que me olha. O que ela procura: Minha fragilidade: Me mostro confiante. Sou jovem e o jogo é gostoso, sinto tesão. Peço outro copo e mais um e mais. Fumo com excesso. Eu não tenho limites, não tenho fim. A vida é solta, livre, leve, flutuante. Mas preciso de carinho e velocidade. "Livre, leve, flutuante..." minha vida roda e vou trabalhar. Sem sono, com remédios. Sem fome, como álcool. Sem vínculos, cheiro a vida. Sem fim.


Poemas feitos de 1992 a 1994

MANCHA
Perdi a rima do poema
Mas não perdi a auto-importância.
Um dia esses rabiscos serão exposto
E muitos se adequarão a esses versos banais.
Pretensão.
Voltei a fazer poemas
No fundo do poço, finalmente.
O poeta é marginal
E estou na margem do papel
Nessa quimera sem fim.
Perdi quase tudo na vida
Mas recuperei a poesia.
Sem a dor, a mágoa, o desprezo
Não se faz poesia perfeita
Não se aprende a viver
Não se ganhaa credibilidade.
A negação é provedora de crescimento
E de cicatriz que não emudece com o tempo.

VALSA
Um ensaio, um boleto, esmero.
Versos fáceis, rimas facéis
De amor fácil de rimas da dor.
Espero.


LONGETIVIDADE
Poema curto, Curtíssimo,
De tempos gastos em desconversas.


DESCULPAS
O tédio lamenta a ausência
Mas foi tomar um porre homérico
E não pretende voltar tão cedo.


POEMA ERÓTICO
O solavanco dos carros, em freadas bruscas, arrepiam o pêlo,
Em desejo incosciente.
O suor da rotina em atrito ao desejo úmido.
O odor do sexo impregna cada canto da rua
E mantém um vínculo cúmplice com o concreto.
Os caláfrios do ventre se ouvem de longe, em camadas ardidas.
As mão trêmulas, envolvendo trocados para o ônibus,
Escondem uma assustada necessidade de aventura erótica.
Ninguém poderia imaginar, suponhe-se.
Mesmo diante de olhos arregalados e vermelhos,
O coração latejava sob a blusa dina que roçavanos seios já duros e ampls.
Mesmo com a vagina agressiva,
Escorrendo de vontades inconsequentes,
Ansiosa por uma mão, um pênis, uma boca,
As pessoas passavam e não percebiam.
Pode-se morrer de desejo.
Pode-se morrer de gozo
Pode- se morrer que ninguém vai notar.


PEQUENO POEMA DA MENTIRA
Desculpas parecem mentiras
Desculpas, perdões:
__Desculpa, vá...
Beiço pequeno, lábios rosados, sorriso tímido, olhos arregalados e marejados.
__Desculpa...
Não há desculpas para crimes nem castigo que possa vingar uma culpa de amor.


PALAVRAS
Curto.
Grosso.
Fosco
Oco
Nosso
Posso
Quero falar mentiras em palavras pequenas que possam expressar o meu repúdio a proliferação da burrice e do absurdo de não se comer neste país.


VERDADES
Amor louco
Pré-depressão
Pré olheiras
Pré-dores-de-cabeça
Prenúncio de muitos atrasos, brigas, renúncias, orgulhos, teimosias, mentiras...
Ah! Amor louco...


RECADO
Não sei viver sem você
Não sei ficar sem carinho, sem beijos, sem tapas.
Não sei ao menos passar alguns momentos sem querer discutir.
Não sei como ficar curtindo essa falta de desprezo, de ódio, de mágoa.
Não sei viver com você.


A VOCÊ
Amigo é aquele que te conhece e te ama desse jeito.
Amigo é aquele que você enche o saco e ainda assim resiste
Amigo é aquele que te dá esporros monumentais
Amigo é aquel que continua seu amigo depois de tudo o que você aprontou
Amigo é uma profissão em extinção


Poemas feitos entre 1986 a 1992

VÍCIO
Sexualmente falando
Te condeno.
Em força bruta, grito teu nome
Truculento.
Ensandecida me rasgo:
O corpo e a coerência.
E nada mais me resta,
Nem a essência.
O beijo, este gracejo,
Me corrói de ácido minhas vertigens
E me excita, me rompendo.
Esse marasmo de escárnio
E essa dor que corta em mim
Não me deixam chegar até você,
Que em cima deste pedestal
Se exibe nu aos meus olhos famintos.

As meretrizes do asfalto me jogam pedras.

De mais, Só me resta o suicídio
Beijando sua boca com veneno de cio.



O BANQUETE
De tudo era pouco
Do pouco era muio
Do nada um mero talvez.
A mesa estava exposta
Com sua simplicidade remota
Tão remota quanto a vida,
Tão monótona quanto ela própria.
Aceitamos a mesa
Aceitamos a corte do mal.
A fome foi mais forte
E aleijou todos os princípios de orgulho.
Aceitamos o pão e a carne e o feijão
E tudo o mais em nome da dignidade do mais forte.
Pobres fomos até o fim
Humildemente incapazes de anarquizar os sentimentos.
Pobres sem dentes querendo roer ossos...
Pobres de si mesmos vivendo de esmolas de emoções Secos e feios de rancor e ódio que formamos.
A mesta está ali,
Imaginária,
Prontas para o ataque.
Ora, vamos então comer os últimos pedaços de gente
Alegremente
Brindarmos a morte!
A morte.
A morte...


O JOGO
Lábios com lábios
Beijos ardentes
A boca é quente
É de paixão.

Mão com mão
A mão safada
Desvirginada:
É sedução.

Corpo com corpo
Um grudou no outro
O tempo é pouco:
É tentação.

Coração com coração
Atração forte de um amor
Que a vida pode transformar em dor:
É emoção.
Planices e Planaltos
Seus olhos marejantes vibram a qualquer instante
são curiosos, latentes, vivos e doces.
Seu cheiro lembra o mar selvagem de praias desertas
como se nunca existisse, como se fizesse parte do cotidiano.
Sua mão, que poderia ser firme como a de um homem ao mar
é simples plainagem de aconchego e ternura
em minha vida truculenta de maremotos e vertigens.
Encontro uma rede em teu abraço
encontro um caminho,
mesmo que desconhecido e trêmulo,
que sigo a cada dia
com passos firmes e olhos fechados.


Soltinho
Sua cabeça é solta ao vento
_Puxo o fio da linha para trazê-la mais próxima
do centro da terra.
Seus sonhos vagueiam por lugares que nem a imaginação mais
fértil poderia alcançar.
_Eu visto minha camisa de força para chegar mais próximo.
Um menino diante do frio da dúvida
e da dureza dessa vida cinza chamada maturidade.
Um homem, regado de sentimentos por todos os poros.
Timido, um herói, um louco.
Travado nas prisões de cada lado da escolha.
Que arrisca de peito aberto e sorriso doce
Que de caçador virá caça no bailar inebriante das tentações
Que não sabe o que quer
Mas que sabe tudo o que não quer.