Poesias e sufocos
Singular é pouco para quem tem multiplicidade. Ímpar é pouco para quem vive em pares. Olho no espelho e ando pra trás: idade diminuta, olhos mais brilhantes, sonhos mais perversos. Não dá para ter tudo, então me resguardo na palavra. Quase igual aos outros. Quase.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
BLASFEMEA
Sou bandida e movo montanhas
a seu pedido
Bem mesquinha, te quero comigo
Vem meu doce, meu macho
acho que você ainda não entendeu
Que está preso a mim
E livre como um pássaro
Porque a nuvem sou eu.
OLhe a lua que te dei
Ou te darei um dia
No dia que me der um "sim".
Te caço como um homem
e procuro teu aroma jasmim.
Se entregue a tua mulher
Sempre tua
Nua, a seu dispor.
Sem complô, te acho
Sem acaso: destino.
Não fuja, te dou o vento
O amor, o tempo
Do que quiseres te alimento
Mas não me venha com ausência
De alma, de amor.
E nem com clemência.
Porque te quero sim,
Mas inserida na tua natureza...
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Lentes de Contato
Meu auto-retrato talvez fosse um rabisco
Mas me arrisco a dizer que não sei desenhar.
Auto-retratar-se.
Autofagia.
Quem sou nessa foto?
Quantas vidas eu tenho?
Meus olhos contem mistério e afeto...
Que nome eu tenho?
Poderiam me chamar de vento
Porque tenho várias formas de movimento
Poderiam me chamar de labirinto
Porque entrar em mim mesma é não saber o caminho de volta.
Poderia se chamar silêncio
Porque meu grito ecoa além do que se pode ouvir.
Que palavra me retrato?
Que chama devo arder para me desenhar?
Devoro a mim mesma e me refaço.
Vou contar um segredo...
Não sei quem sou nesse retrato.
O intimo dos fatos,
A fotografia,
A grafia.
A rima, a poesia.
O ato.
A mola, a fresta: acato.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
ADMIRO
Ele gosta das pessoas invisíveis. Muitas vezes pará o que está fazendo para conversar com elas e saber seus nomes. Não sei de que é feito essa rara criatura, mas cabe dentro dele um mundo perfeito. Quando lhe falo de amor, se assusta, logo ele que tem como maior defeito se apaixonar por tudo que vê.
Ele oscila entre a infancia. Ora é pai ou filho e em seu sorriso cabem todos os seus sonhos. Alguns perdidos, outros encontrados. Que homem é esse que se reveste de tolo e é tão complexo?
De olhos de carinho explícito, mãos macias e uma carencia quase divina, transcede as palavras, supera o céu e invade as almas.
Ele gosta de pessoas... tanto que esquece de ser timido. Muitas vezes ama tanto que esquece de se amar. Mas não esquece de ser um menino, com corpo de homem, com os pés firmes no chão de terra, correndo atrás de uma bola, o suor caindo no rosto e a vida inteira ziguezagueando em seu caminho.
Ele gosta de todos os seres e o seu maior defeito é se apaixonar por tudo o que vê.
RIDICULARIDADES
Doce espanto
te ver chorando
e saber que é amor
Doce dor
te ver saindo
e saber do teu pudor
Que frescor!
sentir tua brisa
e suas insanidades
Um tipo de demência
essa sua incoerencia
vou contigo onde for
Se é amor, oh doce amor
vai segundo seu caminho
mais torno e extraviado
Erra todos os desvios
ama feito um passário
coberto de pecados.
Doce espanto
te ver chorando
e saber que é amor
Doce dor
te ver saindo
e saber do teu pudor
Que frescor!
sentir tua brisa
e suas insanidades
Um tipo de demência
essa sua incoerencia
vou contigo onde for
Se é amor, oh doce amor
vai segundo seu caminho
mais torno e extraviado
Erra todos os desvios
ama feito um passário
coberto de pecados.
SUSPIROS NA NOITE
Eu chorei
três dias e três noites
compulsivamente
intensamente
involuntariamente
e esvaziei
qualquer amargura
tristeza ou sentimento.
Paro na janela e a chuva cai
insistentemente
copiosamente
abundantemente
e me leva com ela.
Encharco o corpo
raso e opaco
tão fosco que não me reconheço
não me assuto mais
com seus medos
não tenho nada a perder
nem essa alma pagã.
No espelho, os meus olhos inchados
abatidos e vazios
tão secos que tilitam.
Sem sorriso, chorei três dias
e três noites.
Sem vergonha, sem pudor
sem alma.
Chorei de amor que se mantém.
terça-feira, 9 de setembro de 2008
SECULAR
Perdida estou num lugar que nunca estive. Nem sei se estarei um dia. Mas escrevinho palavras incoerentes para desenhar meus sentimentos tortos. Rimo palavras sem eixo, irrito as letras com meu canto. No canto, solfejo soluções e prantos. Me assusto com o que vejo e o que não vejo. Tua alma. Tão opaca que oprime e chego a duvidar que te amei tanto. Ou te amo e amarei em bruma. Rouca de gritos insolentes, solenes sentidos de apego. Me pego pensando em ti em frações de segundos mais rápidos que meu ar. E tua boca curvilínea que me sorri em desalinho e tonteia minhas pernas incoerentes que cismam em caminhar até ti.
Deixarei intacta tua imagem. Fixa imagem de franqueza. Deixarem minhas mãos me guiarem para o mar e a lua que parece tão próxima, mais próxima que tua alma.
Sinto que sou um gesto, que posso te possuir. E que posso me enganar com a lua que parece tão perto e com o mar que parece tão sereno... teus olhos serenos de mar e brilhantes como a lua, me afogam de saudade.
Nem mesmo num lugar onde estive, talvez nem estivesse mesmo lá, presenciei olhos tão silenciosos. No canto deles há uma coisa que me encerra. Estou demasiadamente perto, para ser engolida por eles. Encerram e não ouso mover. Nada que me estenda a esse lugar que nunca estive se iguala ao poder de tua intensa fragilidade. Ou de tua ternura quando respira. A morte se recicla em teu olhar, tão doce e selvagem olhar...
Que pequena sou eu diante de teu mar. Misterioso mar de olhos tristes e perenes. Tão perenes quanto a vida que se espreita e a vontade rouca de te invadir e te amar e ser amado pelo teu olhar.
Te deixarei ir, não sem antes encostar no meu rosto o teu rosto e fazer com que sintas o meu aroma. Talvez você sufoque, talvez você desmaie. Talvez você descubra o meu veneno. Ouvirei tua fala amorosa e teu suspiro seco. Teus olhos para mim, tão fechados e vivos e misteriosos, tão meus que nem sei onde coloca-los.
No fundo do mar, talvez. Na ponta da lua, na curva das estrelas. Na saudade que acena com a mão que teus olhos já me descreveram tantas vezes sem querer...
Perdida estou num lugar que nunca estive. Nem sei se estarei um dia. Mas escrevinho palavras incoerentes para desenhar meus sentimentos tortos. Rimo palavras sem eixo, irrito as letras com meu canto. No canto, solfejo soluções e prantos. Me assusto com o que vejo e o que não vejo. Tua alma. Tão opaca que oprime e chego a duvidar que te amei tanto. Ou te amo e amarei em bruma. Rouca de gritos insolentes, solenes sentidos de apego. Me pego pensando em ti em frações de segundos mais rápidos que meu ar. E tua boca curvilínea que me sorri em desalinho e tonteia minhas pernas incoerentes que cismam em caminhar até ti.
Deixarei intacta tua imagem. Fixa imagem de franqueza. Deixarem minhas mãos me guiarem para o mar e a lua que parece tão próxima, mais próxima que tua alma.
Sinto que sou um gesto, que posso te possuir. E que posso me enganar com a lua que parece tão perto e com o mar que parece tão sereno... teus olhos serenos de mar e brilhantes como a lua, me afogam de saudade.
Nem mesmo num lugar onde estive, talvez nem estivesse mesmo lá, presenciei olhos tão silenciosos. No canto deles há uma coisa que me encerra. Estou demasiadamente perto, para ser engolida por eles. Encerram e não ouso mover. Nada que me estenda a esse lugar que nunca estive se iguala ao poder de tua intensa fragilidade. Ou de tua ternura quando respira. A morte se recicla em teu olhar, tão doce e selvagem olhar...
Que pequena sou eu diante de teu mar. Misterioso mar de olhos tristes e perenes. Tão perenes quanto a vida que se espreita e a vontade rouca de te invadir e te amar e ser amado pelo teu olhar.
Te deixarei ir, não sem antes encostar no meu rosto o teu rosto e fazer com que sintas o meu aroma. Talvez você sufoque, talvez você desmaie. Talvez você descubra o meu veneno. Ouvirei tua fala amorosa e teu suspiro seco. Teus olhos para mim, tão fechados e vivos e misteriosos, tão meus que nem sei onde coloca-los.
No fundo do mar, talvez. Na ponta da lua, na curva das estrelas. Na saudade que acena com a mão que teus olhos já me descreveram tantas vezes sem querer...
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